E de novo apago tudo o que tinha escrito aqui, exceto o primeiro post, para recomeçar como que do nada.
Então aproveito para clamar um trecho do poema “O Diabo Mundo”, do poeta romântico espanhol José de Espronceda, que diz assim:
“[…] eleitor, do sensato movimento
partidário em política, e nomeado
reitor do heroico ajuntamento
por fama de homem honrado,
e odiar em suas doutrinas reformistas
não menos ao partido moderado
que aos quatro anarquistas*,
ainda que estes lhe incomodem muito mais
”
Daí, desse trecho, sigo para falar de política, concordando com a sugestão de Espronceda de que o partidarismo moderado é talvez mais detestável que o anarquismo desaforado, mesmo que este por vezes encha mais o saco.
O Brasil, que está às vésperas de definir a eleição presidencial, tem ante si dois espécimes desses moderados detestáveis. Candidatos a presidência, Dilma de um lado e Serra de outro não pensam em reformar substancialmente o país, as instuituições políticas, as leis, os brasões, os bordões, as oligofrenias e as vergonhas, mas antes se resumem a falar contra o aborto para conseguir apoio das igrejas. Com isso apequenam um tema importante, tergiversam, não opinam com sinceridade e, mais que inautênticos, mostram que estão dispostos a tudo, coligar com quem quer que seja, para alcançar a presidência.
A política eleitoral a esta altura deveria conduzir a um vigoroso debate sobre os temas importantes, como a reestruturação do modelo parlamentar bicameral, a ampliação da jurisdição constitucional, novos modelos de transferência de renda, programas de assistência social ousados, participação social na delineação da política fiscal e orçamentária, formas de incentivos ao Terceiro Setor etc. Inclusive se poderia debater o aborto como subtema da saúde pública. Mas não, nada disso aparece, os candidatos não dão a cara a tapas, convencidos pelos marqueteiros e assessores a se omitirem.
Bah! Eu vou ter a oportunidade de votar no 2º turno, estarei na minha zona eleitoral no dia do pleito, a pessoa certa na hora certa, mas o caso é que vou anular o voto. E vou. Votar em quem? Não em Dilma, tampouco em Serra. Anarquistas de menos pro meu gosto. Eu que nem sou eleitor do sensato movimento partidário em política.
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* Segundo a edição dos Clásicos Castalia (n. 20, Introducción biográfica y crítica, pp. 21-23), Espronceda referia por “anarquistas” as pessoas ligadas à imprensa moderada que defendiam ideias democráticas e republicanas, sendo o poeta espanhol um tipo desses.